Síntese dos textos da Aula 04
No Texto do Artigo Competência midiática: de proposta articulada de dimensões e indicadores, de Joan Ferrés e Alejandro Piscitelli podemos verificar que se faz necessário, mudanças e adaptações no ambiente da comunicação que durante a última década sofreu muitas mudanças com o surgimento e implantação de novas tecnologias, e com este intuito vários especialistas, sendo 50 ao todo se reuniram a fim de definir novas diretrizes com base em seis grandes dimensões: linguagem, tecnologia, processos de interação, processos de produção e difusão, ideologia e valores e dimensão estética.
Com a pretensão de combinar a revolução tecnológica com a neurobiológica, assumindo as mudanças ocorridas no entendimento da mente humana e considerando, especialmente, a importância das emoções e do inconsciente sobre os processos racionais e conscientes.
De 2005 a 2010 foi realizada uma pesquisa financiada pelo Conselho de Audiovisual da Catalunha (CAC) e o Ministério da Educação, na Espanha, com o objetivo de avaliar o grau de competência midiática da cidadania (Ferrés & al., 2011). A pesquisa foi feita através da aplicação de 6.626 questionários, 31 entrevistas e 28 grupos de discussão em toda a Espanha. A amostra foi estratificada por idade (pessoas entre 16 e 24, 25 e 64 e a partir dos 65 anos), sexo e nível de escolaridade (pessoas sem estudo, com ensino fundamental, ensino médio e ensino superior).
Desde o ano de 2005, muitas coisas mudaram no campo da comunicação midiática. Houve uma importante transformação do cenário comunicativo, com o surgimento de novos dispositivos tecnológicos e de novas práticas de comunicação. Essas alterações exigem modificar a definição de competência midiática, ajustando a formulação das dimensões e incorporando novos indicadores.
Cabe então aos trabalhos de pesquisas identificar essas novas ferramentas e avaliar se são úteis para serem implementadas.
A competência midiática deve contribuir para o desenvolvimento da autonomia pessoal de cidadãos e cidadãs, bem como o seu compromisso social e cultural.
Mas isso não impede que as condutas escolares ou universitárias tenham aproximações educacionais com o fenômeno da comunicação midiática que está polarizada, prioritária ou exclusivamente, na dimensão tecnológica, negligenciando a linguagem. Elas abordam as dimensões da tecnologia e das linguagens para que estudantes possam reproduzir acriticamente as rotinas produtivas dos meios de massa convencionais.
Além disso, o poder da mídia se beneficia da transparência que caracteriza os novos sistemas de representação, causando confusão entre representação e realidade. A competência midiática confronta, portanto, essa complexidade, combinando o potencial oferecido pela cultura participativa com o desenvolvimento da capacidade crítica.
A educação midiática deve ser o patrimônio de todos os cidadãos, não apenas de crianças e jovens, por isso esta proposta não se destina a uma idade específica.
Se o mundo da comunicação midiática está em constante transformação, também devemos rever constantemente as abordagens educativas ligadas a ele. O documento não deve ser considerado terminado ou definitivo em nenhum momento. Os trabalhos de pesquisa e a prática cotidiana de educadores e educadoras de mídia levarão a revisões e atualizações constantes.
Uma das principais alterações no novo ambiente da comunicação é a instauração daquilo que se entende por era do prossumidor, momento em que as pessoas, além de consumirem as mensagens de outrem, passam também a produzir e disseminar as suas próprias mensagens.
Isto é, o cidadão deve desenvolver a sua competência midiática interagindo de modo crítico com mensagens produzidas pelos demais, e também sendo capaz de produzir e divulgar as suas próprias mensagens.
Abordagem lúdica para educação midiática
O exercício consiste em apresentar aos participantes, as imagens reais que a agência Reuters disponibilizou um dia às televisões de todo o mundo sobre a miséria que existia na Libéria, como resultado da guerra. São 25 imagens.
A revolução neurobiológica
Na prática educacional, parecemos estar muito dispostos a mudar o nosso pensamento sobre os meios, mas muito pouco em relação à nossa visão sobre nós mesmos como interlocutores desses meios.
No mesmo sentido, deve ser considerada insuficiente a educação midiática que não atenda à dimensão emocional das pessoas que interagem com as telas, porque hoje sabemos que a razão – e, consequentemente, o espírito crítico - é totalmente vulnerável às emoções que sejam de signo oposto.
Finalmente, nunca poderá ser eficaz uma educação midiática que não advirta que as tecnologias apenas promovem a cultura participativa e a autonomia pessoal se forem colocadas a serviço de uma gestão adequada do capital emocional dos indivíduos. "A razão sem emoção é impotente", nas palavras de Jonah Lehrer (2009: 26).
Abordagem participativa
O espírito da cultura participativa deveria permear toda a abordagem metodológica de aproximação aos meios. De pouco serve a radiografia de um produto se não for acompanhada ou precedida pela radiografia das reações da pessoa que interage com ele. De pouco adianta a análise do significado de uma mensagem se não for acompanhada pela análise do efeito que produz naqueles que se envolvem com ela. E pouco serve a radiografia do que pensa uma pessoa sobre um produto, se não forem levados em conta os seus sentimentos em relação a ele.
Competência midiática: dimensões e indicadores
A competência midiática envolve o domínio de conhecimentos, habilidades e atitudes relacionadas a seis dimensões básicas, a partir das quais são elaborados os indicadores. Estes indicadores estão relacionados, em cada caso, com o âmbito de participação das pessoas que recebem mensagens e interagem com elas (âmbito de análise) e das pessoas que produzem as mensagens (âmbito de expressão).
Linguagem
a) Âmbito da análise
• Capacidade de interpretar e avaliar os diversos códigos de representação e a função que cumprem em uma mensagem.
• Capacidade de analisar e avaliar as mensagens a partir da perspectiva do significado e do sentido, das estruturas narrativas e das convenções de gênero e de formato.
• Capacidade de compreender o fluxo de histórias e informações de múltiplas mídias, suportes, plataformas e modos de expressão.
• Capacidade de estabelecer relações entre textos – intertextualidade -, códigos e mídias, elaborando conhecimentos abertos, sistematizados e inter-
relacionados
b) Âmbito da expressão
• Capacidade de se expressar mediante uma ampla gama de sistemas de representação e significados.
• Capacidade de escolher entre diferentes sistemas de representação e estilos em razão da situação comunicativa, do tipo de conteúdo a ser transmitido e do tipo de interlocutor.
• Capacidade de modificar produtos existentes, dando a eles um novo significado e valor.
Tecnologia
a) Âmbito da análise
• Compreensão sobre o papel que a tecnologia da informação e da comunicação desempenha na sociedade e os seus possíveis efeitos.
• Habilidade para interagir de maneira significativa com meios que permitem expandir as capacidades mentais.
• Capacidade de manusear as inovações tecnológicas tornando possível uma comunicação multimodal e multimídia.
• Capacidade de se desenvolver com eficácia nos ambientes hipermidiáticos, transmidiáticos e multimodais.
b) Âmbito da expressão
• Capacidade de manusear com correção ferramentas em um ambiente multimidiático e multimodal.
• Capacidade de adaptar as ferramentas tecnológicas aos objetivos comunicativos almejados.
• Capacidade de elaborar e manipular imagens e sons a partir do conhecimento de como se constroem as representações da realidade.
Processos de interação
a) Âmbito da análise
• Capacidade de seleção, revisão e autoavaliação do próprio consumo midiático, de acordo com critérios conscientes e racionais.
• Capacidade de discernir porque determinados meios, produtos ou conteúdos são apreciados. Porque estes têm êxito, individual ou coletivamente: quais as necessidades e desejos satisfazem no nível sensorial, emocional, cognitivo, estético, cultural, etc.
• Capacidade de avaliar os efeitos cognitivos das emoções: ter consciência das ideias e valores que se associam aos personagens, ações e situações e que geram, de acordo com os casos, emoções positivas e negativas.
• Capacidade de discernir e gerir as dissociações que por vezes são produzidas entre sensação e opinião, entre emotividade e racionalidade.
• Conhecimento da importância do contexto nos processos de interação.
• Conhecimentos básicos sobre o conceito de audiência, estudo de audiência, sua utilidade e seus limites.
• Capacidade de apreciar as mensagens provenientes de outras culturas para o diálogo intercultural em um momento em que os meios são transfronteiriços.
• Capacidade de gerir o ócio midiático convertendo-o em oportunidade para a aprendizagem.
Âmbito da expressão:
• Atitude ativa na interação com as telas, entendida como oportunidade para construir uma cidadania mais plena, um desenvolvimento integral, para transformar o indivíduo e o seu entorno.
• Capacidade de executar um trabalho colaborativo mediante a conectividade e a criação de plataformas que facilitam as redes sociais.
• Capacidade de interagir com pessoas e coletivos diversos em ambientes cada vez mais plurais e multiculturais.
• Conhecimento das possibilidades legais de reclamação diante do descumprimento das normas vigentes em termos audiovisuais, com atitude responsável em tais situações.
Processos de produção e difusão
a) Âmbito da análise
• Conhecimento das diferenças básicas entre as produções individuais e coletivas, populares e corporativas, e no caso da última, de titularidade pública ou privada.
• Conhecimento dos fatores que convertem as produções corporativas em mensagens submetidas às condições socioeconômicas de toda uma indústria.
• Conhecimentos básicos sobre os sistemas de produção, as técnicas de programação e os mecanismos de difusão.
• Conhecimento dos códigos de regulação e de autorregulação que
amparam, protegem e exigem dos distintos atores sociais, e dos coletivos e associações que velam pelo seu cumprimento, bem como uma atitude ativa e responsável perante eles.
Âmbito da expressão
• Conhecimento das fases dos processos de produção e da infraestrutura necessária para produções de caráter pessoal, coletivo ou corporativo.
• Capacidade de trabalhar de maneira colaborativa na elaboração de produtos multimídia ou multimodais.
• Capacidade de selecionar mensagens significativas, apropriar-se delas e transformá-las para produzir novos significados.
• Capacidade de compartilhar e disseminar informação através dos meios tradicionais e das redes sociais, incrementando a visibilidade das mensagens, em interação com comunidades cada vez mais amplas.
• Capacidade de manejar a própria identidade online/off-line e ter uma atitude responsável diante do controle de dados privados, próprios ou de outros.
• Capacidade de gerir o conceito de autoria, individual ou coletiva; ter uma atitude responsável diante dos direitos de propriedade intelectual e habilidade para aproveitar-se de recursos como o “Creative Commons”.
• Capacidade de criar redes de colaboração e retroalimentá-las e ter uma atitude comprometida em relação a elas.
Ideologia e valores
a) Âmbito da análise
• Capacidade de descobrir o modo como as representações midiáticas estruturam nossa percepção da realidade, frequentemente em relação às comunicações inadvertidas.
• Capacidade de avaliar a confiabilidade das fontes de informação, extraindo conclusões críticas, tanto do que se diz, quanto do que se omite.
• Habilidade de buscar, organizar, contrastar, priorizar e sintetizar informações procedentes de distintos sistemas e diferentes contextos.
• Capacidade de detectar as intenções ou interesses subjacentes, tanto nas produções corporativas quanto nas populares, assim como sua ideologia e valores, explícitos ou latentes, adotando uma atitude crítica em relação a eles.
• Atitude ética na hora de baixar produtos úteis para consulta, documentação ou visualização de entretenimento.
• Capacidade de analisar as identidades virtuais individuais e coletivas e de detectar os estereótipos, sobretudo de gênero, raça, etnia, classe social, religião, cultura, deficiência, etc., analisando suas causas e consequências.
• Capacidade de analisar criticamente os efeitos da emissão de opinião de homogeneização cultural que exercem os meios.
• Capacidade de reconhecer os processos de identificação emocional com os personagens e as situações das histórias como potencial mecanismo de manipulação, ou como oportunidade para conhecer a nós mesmos e para nos abrir a outras experiências.
• Capacidade de gerir as próprias emoções na interação com as telas, em função da ideologia e valores que são transmitidos nelas.
b) Âmbito da expressão
• Capacidade de aproveitar as novas ferramentas comunicativas para transmitir valores e contribuir para a melhoria do ambiente em que vivemos, como uma atitude de compromisso social e cultural.
• Capacidade de elaborar produtos e modificar os existentes para questionar valores ou estereótipos presentes em determinadas produções midiáticas.
• Capacidade de aproveitar as ferramentas do novo ambiente comunicativo para se comprometer como cidadão ou cidadã de modo responsável na cultura e na sociedade.
Estética
a) Âmbito da análise
• Capacidade de extrair prazer dos aspectos formais, ou seja, não apenas o que se comunica como também a forma como se comunica.
• Sensibilidade para reconhecer uma produção midiática que não se adequa às exigências mínimas de qualidade estética.
• Capacidade de relacionar as produções midiáticas com outras manifestações artísticas, detectando influências mútuas.
• Capacidade de identificar as categorias estéticas básicas como a inovação formal e temática, a originalidade, o estilo, as escolas e tendências.
Âmbito da expressão
• Capacidade de produzir mensagens elementares que sejam compreensíveis e que contribuam para incrementar os níveis pessoais ou coletivos de criatividade, originalidade e sensibilidade.
• Capacidade de se apropriar e de transformar produções artísticas, potencializando a criatividade, a inovação, a experimentação e a sensibilidade estética.
Através dos estudos apresentados pretende-se realizar um diagnóstico das necessidades que são detectadas em três grandes instituições vinculadas à competência midiática da cidadania: o ensino universitário (nos âmbitos da comunicação e da educação), o ensino obrigatório e o grupo formado por profissionais da comunicação.
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