Memorial Trairí

A Chegada


A viagem aos municípios de Trairi e Flecheiras começou para mim com um pouco de tensão, pois a equipe que era compostas por três membros teve uma baixa bem na véspera da viagem o que me deixou bastante preocupado e chateado, pois eu já tinha percebido uma certa falta de comprometimento com a preparação da oficina e elaboração do documento requisitado pelas professoras.




Uma das muitas torres eólicas encontradas na localidade visitada. (Para mim destoa totalmente da paisagem e da vegetação e das dunas)



O translado até Flecheiras (local da pousada) se deu sem maiores imprevistos, e depois de devidamente instalados na pousada, seguimos para conhecer o Projeto "Algas Cultivando Sustentabilidade" de uma cooperativa de cultivo e beneficiamento de algas, liderada pelo senhor Pedro nativo de Flecheiras, cidade litorânea do estado do Ceará. Ele nós relatou como funcionava o processo de cultivo e beneficiamento de algas, que confesso que nem imaginava ser a algo que fosse próprio ao consumo humano. Ele também relatou as dificuldades encontradas para manter o projeto e a falta de apoio do poder público que não lhes oferece apoio institucional, a falta de publicidade sobre os benefícios do consumo da alga, para que se possa estimular o consumo e a implementação da alga no cardápio das escolas da região. Relatou ainda os conflitos por territórios, em que os nativos vem sendo expulsos de localidades onde sempre moraram muitos de seus antepassados, ao longo dos últimos anos e onde há o envolvimento tanto estrangeiros em sua grande parte europeus, além de famílias tradicionais da capital do estado, que de forma arbitrária vem tomando as terras dos nativos que ali se encontram há várias gerações através de "grilagem". Ao final de seus relatos podemos degustar uma geleia feita com algas e com cobertura de maracujá.


Senhor Pedro fazendo demonstração de como é realizado o cultivo da alga dentro do mar com essa espécie de corda que flutuar ao está perdurada a uma garrafa pet.  

 Alga colhida que será beneficiada para o consumo alimentar humano

  

 Alga beneficiada e embalada para ser comercializada

 
 Turma atentamente preparada para a exposição do senhor Pedro






Geleia de algas com musse de maracujá servida à toda turma de educomunicação para degustação.

Já no início da tarde podemos desfrutar de um maravilhoso almoço na pousada e seguimos para a E.E.M. Pe. Rodolfo Ferreira da Cunha localizada em Trairi na comunidade de Canaã. Na escola pude acompanhar a oficina de Realidade Aumentada ministrada pelos colegas Júlio, Kherliane e Zeus e senti o clima do que poderia vir no dia seguinte pela manhã, pois confesso que estava bastante tenso com a ideia de dar uma oficina para adolescentes, Embora não tão numerosa os alunos de início pareciam um pouco relutantes e meio alheios à oficina, mas conforme começaram a ver o quão legal era o conteúdo que estava sendo demostrado, foram se envolvendo aos poucos e participando da oficina. No intervalo da oficina fiquei comovido com o relato de vida do aluno Eliabe que confidenciou a Zeus que mora em uma outra localidade um pouco distante da escola e que seus pais já o fazem pressão para que trabalhe para ajudar no complemento da renda familiar, diminuindo assim suas perspectivas de seu tão sonhado ingresso em uma faculdade de Ciências da Computação e de seu sonho em tocar bateria em uma banda de forró, como fazia seu pai que ao se tornar evangélico agora o filho de seguir o mesmo caminho que um dia seguiu, afirmando que são coisas mundanas, conforme é pregado pela religião que agora segue. Eliabe confessou ainda que sentia que seu lugar não era ali naquela cidade e que talvez se mudasse para Fortaleza quando atingir a maioridade. Eu e Zeus procuramos lhe dar conselhos e explicar um pouco sobre como funcionavam a coisas da faculdade.





Voltamos à pousada já quase anoitecendo e aproveitei para dar uma afinada na apresentação junto com Lorena, já que a deserção de um membro da equipe havia nos deixado uma lacuna. Logo após saímos para jantar e dar uma volta até a pracinha e fui dormir.  


O dia D ( A Oficina)



Enfim, é chegado do dia da nossa oficina e que tinha como tema: Plano de Vida com Design Thinking, e confesso que não esperava uma procura tão grande, que acabou resultando em uma superlotação da sala que estava reservada para a oficina e tivemos que trocar por uma sala uma pouco maior, pois a sala que a priori seria ofertada a oficina era um pouco menor, mas ainda assim ficou pequena para acomodar tantos alunos. E como superlotação e alunos adolescentes acaba resultando em uma mistura quase que explosiva em qualquer lugar, tivemos bastante dificuldade para prender a atenção da turma que tinha uma mistura dos que realmente estavam interessados na oficina com os não estavam nem aí. Lorena com seu tom de voz teve dificuldades para ser ouvida,  com todo o burburinho daqueles que não estavam interessados em colaborar, no inicio foi um pouco sentido, fato que foi inclusive relatado na avaliação dos alunos, mas com o decorrer da oficina em que fomos relatando aos alunos as nossas experiências pessoais, foi acontecendo o envolvimento de todos. Depois que apresentamos o conceito de Design Thinking e contamos nossas histórias de vida para os presentes, eles começaram a abraçar a ideia de como ter um direcionamento, seja para ingressar numa faculdade, em um curso profissionalizante, ou até mesmo um concurso público. Me deixou bastante preocupado o relato de um aluno que quando indagado sobre qual profissão seguiria  no início da oficina, relatou que queria ser traficante, mas fiquei feliz que ele tenha mudado de ideia quando estávamos aplicando ação prática da oficina e fui orienta-lo de deveria ser realizada, fui conversar com ele que disse que havia mudado de ideia e faria um concurso para ser policial.


Oficina de Plano de Vida Com Design Thinking



Após a oficina realizamos uma conversa com professor Célio (que para mim, ao conhecer os seus trabalhos realizados nesta escola, seria como se fosse um Freinet do Trairi), ele nos relatou a realidade preocupante vivida na escola e da grande taxa de evasão dos alunos que se dá por uma série de fatores que vão desde a grande distância que alguns alunos enfrentam para chegar à escola, a alunos que têm que trabalhar para ajudar na renda familiar e dentre outros fatores,  Ele relatou também os projetos exitosos da escola que muitas vezes esbarram na falta de apoio da Secretaria Estadual de Educação, que está mais preocupada em alcançar resultados e não compreende o contexto social vivido naquela localidade, ele  acabou confessando que esse lamentável fato tem lhe desestimulado à continuar a sua caminhada, Ele me lembrou muito Freinet, que como ele enfrentava sérias dificuldades para implementar seu método de ensino. Isso acabou com meu dia. Venho acompanhando com preocupação os retrocessos dos poucos avanços que vínhamos alcançando nos últimos anos na educação e ações como a do professor Célio que já sofrem com o pouco apoio correm o risco de serem dizimadas.






Havia na programação uma visita à uma usina eólica que acabou sendo cancelado por questões operacionais que acabou antecipando a nossa volta para Fortaleza, para mim tudo bem, pois já estava com saudades de casa, já que raramente viajo. De toda forma foi uma experiência muito enriquecedora, tanto como aluno, tanto como cidadão, embora a situação que é vivenciada na escola não esteja tão distante da que eu vivi em minha vida escolar, há mais ou menos uns 10 anos, é bastante lamentável e preocupante que a realidade vivida pela ensino público nas cidades do interior  do nosso estado que a educação não parece ser a prioridade deste governo e de outros governos que sempre em suas campanhas eleitorais na disputa pelo poder sempre elegem a educação como prioridades em suas plataformas de governo. 

Será de grande valia se o governo tornasse adotasse o a Educomunicação em seu Plano Estadual de Educação  tornando-a uma política de governo e incentivasse muitos outros Célio a mudar essa realidade, estou convencido de que as experiências educomunicativas talvez sejam uma das saídas para o deficit educacional existente.


Di Paula conseguiu meditar após o almoço


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