Célestin Freinet
Frases de Célestin Freinet:
"A democracia de amanhã se prepara na democracia da
escola"
"Se não encontrarmos respostas adequadas a todas as
questões sobre educação, continuaremos a forjar almas de escravos
em nossos filhos"
Célestin Freinet nasceu em 1896 em Gars, povoado na
região da Provence, sul da França. Foi pastor de rebanhos antes de
começar a cursar o magistério. Lutou na Primeira Guerra Mundial em
1914, quando os gases tóxicos do campo de batalha afetaram seus
pulmões para o resto da vida. Em 1920, começou a lecionar na aldeia
de Bar-sur-Loup, onde pôs em prática alguns de seus principais
experimentos, como a aula-passeio e o livro da vida. Em 1925,
filiou-se ao Partido Comunista Francês. Dois anos depois, fundou a
Cooperativa do Ensino Leigo, para desenvolvimento e intercâmbio de
novos instrumentos pedagógicos. Em 1928, já casado com Élise
Freinet (que se tornaria sua parceira e divulgadora), mudou-se para
Saint-Paul de Vence, iniciando intensa atividade. Cinco anos depois,
foi exonerado do cargo de professor. Em 1935, o casal Freinet
construiu uma escola própria em Vence. Durante a Segunda Guerra, o
educador foi preso e adoeceu num campo de concentração alemão.
Libertado depois de um ano, aderiu à resistência francesa ao
nazismo. Recobrada a paz, Freinet reorganizou a escola e a
cooperativa em Vence. Em 1956, liderou a vitoriosa campanha 25 Alunos
por Classe.
No ano seguinte, os seguidores de Freinet fundaram a Federação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna (Fimem), que hoje reúne educadores de cerca de 40 países. Freinet morreu em 1966.
Muitos dos conceitos e atividades escolares idealizados pelo
pedagogo francês Célestin Freinet se tornaram tão difundidos que
há educadores que os utilizam sem nunca ter ouvido falar no autor. É
o caso das aulas-passeio (ou estudos de campo), dos cantinhos
pedagógicos e da troca de correspondência entre escolas. Não é
necessário conhecer a fundo a obra de Freinet para fazer bom uso
desses recursos, mas entender a teoria que motivou sua criação
deverá possibilitar sua aplicação integrada e torná-los mais
férteis.
Freinet se inscreve, historicamente, entre os educadores
identificados com a corrente da Escola Nova, que, nas primeiras
décadas do século 20, se insurgiu contra o ensino tradicionalista,
centrado no professor e na cultura enciclopédica, propondo em seu
lugar uma educação ativa em torno do aluno. O pedagogo francês
somou ao ideário dos escolanovistas uma visão marxista e popular
tanto da organização da rede de ensino como do aprendizado em si.
"Freinet sempre acreditou que é preciso transformar a escola
por dentro, pois é exatamente ali que se manifestam as contradições
sociais", diz Rosa Maria Whitaker Sampaio, coordenadora do pólo
São Paulo da Federação Internacional dos Movimentos da Escola
Moderna (Fimem), que congrega seguidores de Freinet.
Na teoria do educador francês, o trabalho e a cooperação
vêm em primeiro plano, a ponto de ele defender, em contraste com
outros pedagogos, incluindo os da Escola Nova, que "não é o
jogo que é natural da criança, mas sim o trabalho". Seu
objetivo declarado é criar uma "escola do povo".
Importância do êxito
Não foi por acaso que Freinet criou uma pedagogia do trabalho.
Para ele, a atividade é o que orienta a prática escolar e o
objetivo final da educação é formar cidadãos para o trabalho
livre e criativo, capaz de dominar e transformar o meio e emancipar
quem o exerce. Um dos deveres do professor, segundo Freinet, é criar
uma atmosfera laboriosa na escola, de modo a estimular as crianças a
fazer experiências, procurar respostas para suas necessidades e
inquietações, ajudando e sendo ajudadas por seus colegas e buscando
no professor alguém que organize o trabalho.
Outra função primordial do professor, segundo Freinet, é
colaborar ao máximo para o êxito de todos os alunos. Diferentemente
da maioria dos pedagogos modernos, o educador francês não via valor
didático no erro. Ele acreditava que o fracasso desequilibra e
desmotiva o aluno, por isso o professor deve ajudá-lo a superar o
erro. "Freinet descobriu que a forma mais profunda de
aprendizado é o envolvimento afetivo", diz Rosa Sampaio.
Ao lado da pedagogia do trabalho e da pedagogia do êxito,
Freinet propôs, finalmente, uma pedagogia do bom senso, pela qual a
aprendizagem resulta de uma relação dialética entre ação e
pensamento, ou teoria e prática. O professor se pauta por uma
atitude orientada tanto pela psicologia quanto pela pedagogia -
assim, o histórico pessoal do aluno interage com os conhecimentos
novos e essa relação constrói seu futuro na sociedade.
Livre expressão
Esse aspecto muito particular que atribuía ao aprendizado de cada criança é a razão de Freinet não ter criado um método pedagógico rígido, nem uma teoria propriamente científica. Mesmo assim, seu entendimento sobre os mecanismos do aprendizado mereceu elogios do biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), cuja teoria do conhecimento se baseou em minuciosa observação científica.
Freinet dedicou a vida a elaborar técnicas de ensino que
funcionam como canais da livre expressão e da atividade cooperativa,
com o objetivo de criar uma nova educação. Lançou-se a essa tarefa
por considerar a escola de seu tempo uma instituição alienada da
vida e da família, feita de dogmas e de acumulação estéril de
informação - e, além disso, em geral a serviço apenas das elites.
"Freinet colocou professor e alunos no mesmo nível de igualdade
e camaradagem", diz Rosa Sampaio. O educador não se opunha,
porém, às aulas teóricas. A primeira das novas técnicas didáticas
desenvolvidas por Freinet foi a aula-passeio, que nasceu justamente
da observação de que as crianças para quem lecionava, que se
comportavam tão vividamente quando ao ar livre, pareciam
desinteressadas dentro da escola. Uma segunda criação célebre, a
imprensa na escola, respondeu à necessidade de eliminar a distância
entre alunos e professores e de trazer para a classe a vida "lá
fora". "É necessário fazer nossos filhos viver em
república desde a escola", escreveu Freinet.
A pedagogia de Freinet se fundamenta em quatro eixos: a
cooperação (para construir o conhecimento comunitariamente), a
comunicação (para formalizá-lo, transmiti-lo e divulgá-lo), a
documentação, com o chamado livro da vida (para registro diário
dos fatos históricos), e a afetividade (como vínculo entre as
pessoas e delas com o conhecimento).
Cooperação sim, manuais não com a intenção de propor uma reforma geral no ensino francês,
Freinet reuniu suas experiências didáticas num sistema que
denominou Escola Moderna. Entre as principais "técnicas
Freinet" estão a correspondência entre escolas (para que os
alunos possam não apenas escrever, mas ser lidos), os jornais de
classe (mural, falado e impresso), o texto livre (nascido do estímulo
para que os alunos registrem por escrito suas idéias, vivências e
histórias), a cooperativa escolar, o contato freqüente com os pais
(Freinet defendia que a escola deveria ser extensão da família) e
os planos de trabalho. O pedagogo era contrário ao uso de manuais em
sala de aula, sobretudo as cartilhas, por considerá-los genéricos e
alheios às necessidades de expressão das crianças. Defendia que os
alunos fossem em busca do conhecimento de que necessitassem em
bibliotecas (que deveriam existir na própria escola) e que
confeccionassem fichários de consulta e de autocorreção (para
exercícios de Matemática, por exemplo). Para Freinet, todo
conhecimento é fruto do que chamou de tateamento experimental - a
atividade de formular hipóteses e testar sua validade - e cabe à
escola proporcionar essa possibilidade a toda criança.
Para pensar
A utilização de técnicas desenvolvidas por Freinet, em
particular as aulas-passeio e os cantinhos temáticos na sala de
aula, não significam por si só que o professor adotou uma prática
freinetiana. É preciso lembrar que o educador francês criou tais
recursos para atingir um objetivo maior, que é o despertar, nas
crianças, de uma consciência de seu meio, incluindo os aspectos
sociais, e de sua história. Quando você promove atividades em sua
escola, costuma ter consciência de como elas se inserem num plano
pedagógico mais amplo?
Fonte: Educar para Crescer / Abril
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