Síntese do texto da Aula 13
Ismar de Oliveira Soares
O autor começa no seu texto de sua pesquisa observando que Educomunicação já era um termo utilizado pelos gestores culturais já nos anos 80, sob os olhares da Unesco, para se referir a Media Education (Educação para recepção crítica dos meios de comunicação), e também como em alguns países da América Latina.
Já no Brasil a experiência que obteve maior repercussão foi a do Projeto LCC – Leitura Crítica da Comunicação, desenvolvida pela União Cristão Brasileira de Comunicação (UCBC), que tinha envolvidos no projeto, pesquisadores da área da educação da USP e Instituto Metodista de Ensino Superior de São Bernardo do Campo. Tinha a metodologia adotada de cursos de curta duração (entre 16 e 24 horas) quase sempre aplicados aos finais de semana, com média de 60 ações por ano.
O termo “leitura crítica da comunicação” acabou sendo incluído no texto das Leis de Diretrizes e Bases – LBD, elaborado pela Câmara dos Deputados, no início dos anos 1990. A versão final de origem e aprovada em 1996, deixou de contemplar o termo, mas abriu espaços para os Parâmetros Curriculares Nacionais contemplassem o estudo da comunicação e suas linguagens como metas em todo o país.
Diferente do que aconteceu em outros continentes na América Latina ocorreu a difusão do movimento denominado “educação popular”, “comunicação alternativa”, “comunicação popular e alternativa” com a adoção de uma perspectiva dialética.
O foco das discussões eram a relação que os receptores estabeleciam com os meios de comunicação, ou seja, o modo de como essas audiências reagiam e se articulavam a receber e assimilar os conteúdos midiáticos.
Durante toda a década de 1990, núcleos de extensão de universidades e ONGs ligadas diretamente ao uso de mídias em suas experiências de formação de crianças e jovens, no Brasil, difundiram abordagens práticas de aplicação da educação às mídias. As organizações passaram a entender que o exercício de “produzir comunicação” de forma democrática e participativa, por parte das crianças e jovens. representaria um diferencial às experiências internacionais voltadas exclusivamente à “leitura” das mídias.
O termo Educomunicação é designado exatamente para explicitar este diferencial em relação aplicação conjunta da educação comunicação social que eram e são aplicadas no Brasil e alguns países da América Latina.
É interessante observar que a literatura internacional começa a reconhecer o papel da América Latina no desenho de uma forma de conceber e praticar comunicação. Na apresentação do livro Youth Engaging with the World: Media, Comunication ans Social Change, “ Yearbook-2009”, do programa “The International Clearinghouse on Children, Youth and Media”, da Unesco (pp. 11-18), seus editores Thomas Furte e Florencia Enghel atribuem explicitamente às experiências latino-americanas de comunicação alternativas dos anos 1970 e seguintes o movimento em torno da busca mundial por uma estreita aproximação entre comunicação e desenvolvimento, a partir de uma perspectiva solidário-cidadã. É o autor chamado a dar respaldo aos múltiplos relatos que compõem o capítulo do livro, com experiências envolvendo juventude, comunicação e mudanças sociais, em 13 diferentes países dos cinco continentes, não é outro, se não Nestor Garcia-Calclini.
Era garantida a inter-relação entre estas duas práticas sociais - a educação e a comunicação - já alcançado, em determinadas circunstâncias e sob as perspectiva teórica-metodológicas específicas, uma densidade própria e se afirmava como um “campo de prática ou ‘intervenção social’ com grande potencial transformador” (SOARES, 1999).
Os pesquisadores haviam se deparado com a figura que surgia de um novo profissional, finalmente com reconhecimento da Universidade de São Paulo, dez anos após a conclusão da pesquisa, em 2009, criou-se o curso superior em de Licenciatura em Educomunicação.
Ao assumir a visão sistêmica na descrição da prática, o Núcleo de Comunicação e Educação - NCE/USP aponta para o fato de que, o núcleo de pesquisa havia identificado não eram ações isoladas, fruto do protagonismo deste ou daquele agente cultural, mas ações de natureza diversificada (no campo da gestão de processos educativos; da expressão estética; do uso das tecnologias nos espaços educativos; da pedagogia da recepção, entre outras), articuladas com base na intencionalidade comunicativa.
A partir do ano 2000, a interpretação oferecida pelo conceito NCE/USP passou a circular fora da fronteira nacional, em artigos e livros escritos em inglês, espanhol e italiano. O termo aparece em inglês pela primeira vez no ano de 2000, na mais antiga revista especializada em Media Literacy dos Estados Unidos. Na América Latina, a visão NCE/USP sobre o tema começa a ser difundida a partir do artigo produzido em 2000 para uma coletânea coordenada por Carlos Eduardo Valderrama, da Universidad de Bogotá, Colômbia. Outros textos circulam através de revistas especializadas.
A Educomunicação - enquanto teia de relações (ecossistema) inclusivas, democráticas, midiáticas e criativas - não emergem espontaneamente num dado ambiente. Precisa ser construída intencionalmente. existem obstáculos que têm de ser enfrentados e vencidos. O obstáculo maior é, na verdade, a resistência às mudanças nos processos de relacionamento interior de boa parte dos ambientes educativos, reforçada, por outro lado, pelo modelo disponível da comunicação vigente, prioriza, de igual forma, a mesma perspectiva hegemonicamente verticalista na relação entre o emissor e receptor.
A construção desse novo “ecossistema” requer, portanto, uma racionalidade estruturante: exige clareza conceitual, planejamento, acompanhamento e avaliação. No caso, demanda, sobretudo, uma pedagogia de projetos voltada para a dialogicidade educomunicativa, em condições de prever formação teórica e prática para as novas gerações tenham condições não apenas de ler criticamente o mundo dos meios de comunicação, mas, também, de promover as próprias formas de cidadania pelo uso comunitário e participativo dos recursos da comunicação e da informação. Com o desenvolvimento das experiências ao longo dos anos 1990, muitas ONGs que inicialmente adotaram, para as suas ações, denominações como “educação pela comunicação” ou, simplesmente, “mídia e educação”, acharam que o que vinham fazendo poderia ser identificado pura e simplesmente com educomunicação.
Educação e Ensino: O conceito sob a perspectiva das políticas públicas
A primeira década do século XXI viu florescer importantes experiência educomunicativas no espaço do Ensino Fundamental e Médio, mediante ações patrocinadas pelo ministério público, para contribuir com soluções para determinados problemas. Entre os tais projetos que eram especificamente direcionados à diminuição da violência nas escolas, e ganhou certo destaque pela sua abrangência, o Educom.rádio - Educomunicação pelas Ondas do Rádio. O projeto era financiado pela prefeitura de São Paulo com gerência do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da USP, executado durante 7 semestres de 2001 a 2004, atendendo um número aproximado de 11 mil agentes educacionais, neste grupo estavam incluídos, professores, alunos e membros da comunidade educacional ligados às 455 escolas da rede pública municipal de ensino da capital paulista.
Durante o curso, cada escola recebeu um kit que propiciava a produção radiofônica que permitia a montagem de um pequeno estúdio e antena transmissora com um raio de até 300 metros.
Em algumas escolas foi despertada nos alunos a produção colaborativa de programas de rádio, ampliando a forma de expressão e se tornando uma verdadeira atração durante os intervalos do recreio.
Algumas escolas desenvolveram produções um pouco mais elaboradas e sofiticadas e tecnicas com a adição de conteúdos disciplinares e com o resgate de memórias do própria comunidade e escola através de produções radiofônicas que faziam com que acontecem o revezamento entre os alunos as produções estimulando o desenvolvimento da leitura e da escrita, e sem mencionar a contribuição para melhora da relação entre alunos e professores acarretando na diminuição dos índices de violência nas escolas, justificando o resultado que define a efetiva natureza educomunicativa da experiência.
É importante salientar que a simples movimentação da estrutura da rede escolar ou de uma escola em direção aos parâmetros educomunicativos - através da pedagogia de projetos - já constitui um imenso progresso. Foi o que ocorreu, entre 2005 e 2006, em três estados do Centro-Oeste do país, numa atividade promovida pelo Ministério da Educação, atendendo 80 escolas do Ensino Médio, em Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, com a capacitação de 2.500 pessoas vinculadas a comunidades quilombolas, aldeias indígenas, a grupos de assentamentos rurais, além de comunidades rurais e urbanas.
Para tanto, o NCE-USP, responsável pela formação de docentes e estudantes, criou uma plataforma para tratamento dos conteúdos num projeto de educação a distância mediado por computadores. Somavam-se às atividades on-line duas oficinas de produção radiofônica ministradas, em cada escola, por radialistas locais, assim como eventos destinados a socializar os resultado obtidos junto às escolas. A reunião anual da SBPC de 2007, ocorrida em Cuiabá, MT, teve cobertura, no s moldes midiáticos, de estudantes do Ensino Médio do Mato Grosso, com a divulgação da Web-rádio, de entrevistas em todo o país, falando sobre suas pesquisas.
Como ocorrido em São Paulo, no Estado do Mato Grosso o poder público aprovou dispositivos legais visando aprovar um dispositivos legais destinados a garantir o emprego do conceito da educomunicação mediante o uso da linguagem radiofônica.
A partir dessas experiências, podemos concluir que levar a comunicação e seus recursos ao espaço da educação formal e exige algumas decisões por parte de gestores públicos entre as quais:
O Reconhecimento do Princípio;
Oferta de Formação em serviços para educadores e às lideranças estudantis;
A oferta de infraestrutura - suporte técnico que garanta a introdução definitiva da comunicação na pauta dos projetos que chegam às escolas
O apoio à produção midiática colaborativa de professores nas escolas.
Ao convidar o Ensino Médio a ser revisto a partir dos paradigmas da educomunicação, estamos, na verdade, convidando a educação formal a assimilar, em seu benefício, uma experiência que nasceu fora de suas paredes, no espaço das relações não formais de produção e difusão de sentidos, no contexto dos embates da luta social por novos e mais franqueados espaços de comunicação e de expressão.
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